quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Polícia gravou diálogos de médica

Quebra de sigilo no inquérito que apura mortes na UTI do Hospital Evangélico traz à tona detalhes da investigação Exames de necropsia feitos em pacientes que morreram no Hospital Evangélico entre o fim de dezembro de 2011 e março de 2012 apontaram para a existência de pulmões congestionados e com secreção, o que deu força à denúncia anônima sobre uso de medicamentos com a intenção deliberada de matar pacientes na UTI geral da instituição. Entretanto, a investigação da Polícia Civil e do Ministério Público sobre o caso também revelou que remédios desse tipo não deixariam vestígio no corpo, e que para comprovação dos fatos seria necessário colocar um agente infiltrado, com autorização para registrar áudios e vídeos dentro do hospital. A ideia, no entanto não chegou a ser levada a cabo. Nesta quarta-feira (27), a Polícia Civil divulgou uma nota esclarescente que "a execução da medida [infiltração de um agente na UTI] se tornou inviável do ponto de vista operacional, optando-se pela interceptação telefônica autorizada judicialmente". De qualquer forma, os detalhes da investigação vieram à tona ontem, após a Justiça determinar o fim do sigilo do inquérito que apura seis mortes na UTI do Evangélico, as quais teriam tido participação de Virgínia Helena Soares de Souza, chefe da unidade, e de outros quatro profissionais que atuavam no local, todos presos atualmente. Entre os documentos a que a Gazeta do Povo teve acesso, não constam gravações nem relatórios sobre os fatos. Em um dos trechos do pedido de prisão temporária feito à Justiça, há partes de conversas que podem ter sido gravadas pela polícia. Em uma delas, a médica afirma que há doentes que “já estão mortos”, em uma constatação de que alguns pacientes não podem mais se recuperar. Em outro momento, ela fala que não adianta “entulhar a UTI” e que é preciso “girar”. Inicialmente, o juiz não permitiu a interceptação telefônica, mas depois deu a permissão. A denúncia original, feita de forma anônima, usou o termo “a prática de homicídios em pacientes da UTI”, que tinha a intenção de liberar leitos na unidade. As vítimas seriam pacientes que estavam em coma, com risco de ter sequelas ou de demorar para sair da situação. Segundo a denúncia, o primeiro passo era diminuir a frequência do respirador e, em seguida, ministrar um sedativo – “geralmente Pavulon ou Proposol” –, o que causava a diminuição da atividade respiratória e o possível óbito do paciente. A polícia verificou os laudos de cinco homens – um de 24 anos, morto em dezembro de 2011; outro de 45 anos, morto em 8 de março de 2012; o terceiro em 24 de fevereiro; o quarto, em 2 de março; e, por fim, outro homem morto em 3 de março; há ainda outra pessoa, não identificada no inquérito. Os familiares dessas pessoas estão sendo comunicadas pela polícia e, enquanto isso, a Gazeta do Povo preservará o nome das vítimas. Defesa “Primeiro prenderam para depois investigar”, criticou o advogado de Virgínia, Elias Mattar Assad. De acordo com ele, a polícia não conhece medicina legal. “Vou provar isso no curso do caso.”

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